Habacuque: O poder da fé

Habacuque é um tanto misterioso. Sua biografia é desconhecida, assim como o local e a época do seu ministério. Sabemos apenas o seu nome. Alguns estudiosos da Bíblia entendem que Habacuque é o filho da sunamita, o qual foi ressuscitado pelo profeta Eliseu. Seu nome provém da palavra hebraica hibuk, que significa “abraçar”. Habacuque teria recebido dois abraços: um de sua mãe e outro de Eliseu.

Diferentemente do que fizeram vários outros profetas, ele não faz repreensões a Israel, mas se preocupa em compreender por que os maus parecem ter tanto êxito. “Até quando, Senhor, clamarei por socorro, sem que tu ouças? Até quando gritarei a ti: ‘Violência!’ sem que tragas salvação? Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado” (Hc 1.2-3). Habacuque ousa fazer aquilo que muitos crentes não fazem, pois critica Deus por não compreender a sua justiça. Muitas vezes o injusto tem uma vida melhor do que o justo. Qual é o sentido disso? Mais detalhes sobre Habacuque foram revelados em antigos rolos do mar Morto, chamados de “Pesher Habacuque”, do período do segundo templo.

O profeta Habacuque expressa a dificuldade de uma pessoa cujo clamor a Deus não é respondido. Assim, ele representa a impotência da pessoa. O profeta está diante de Deus clamando por justiça. Habacuque não aponta o mau comportamento das pessoas conforme outros profetas fizeram. Por isso a dor e o consolo transparecem em suas palavras. “Olhem as nações e contemplem-nas, fiquem atônitos e pasmem; pois nos seus dias farei algo em que não creriam se a vocês fosse contado” (1.5). Como é possível que o onipotente e justo Deus fortaleça os inimigos do seu povo a fim de exterminar o seu próprio povo? “É uma nação apavorante e temível, que cria a sua própria justiça e promove a sua própria honra” (1.7). Como é possível que o Deus santo, o Deus da justiça, permita haver injustiça? “Teus olhos são tão puros que não suportam ver o mal; não podes tolerar a maldade. Então, por que toleras os perversos? Por que ficas calado enquanto os ímpios devoram os que são mais justos que eles?” (1.13).

Para ilustrar o desamparo das pessoas, ele relata o exemplo do peixe: “Tornaste os homens como peixes do mar, como animais, que não são governados por ninguém. O inimigo puxa todos com anzóis; apanha-os em sua rede e nela os arrasta; então alegra-se e exulta. E por essa razão ele oferece sacrifício à sua rede e queima incenso em sua honra; pois, graças à sua rede, vive em grande conforto e desfruta iguarias” (1.14-16).

Habacuque se encontrava em meio a uma crise de fé e, em sua visão, enxergava o perigo iminente. Ele clama a Deus: “Ficarei no meu posto de sentinela e tomarei posição sobre a muralha; aguardarei para ver o que o Senhor me dirá e que resposta terei à minha queixa” (2.1). A resposta de Deus deveria ser escrita em tábuas para que as pessoas pudessem ler e compreender suas palavras. Inicialmente, Deus mostra claramente ao seu servo que o caminho até a salvação ainda seria extenso; Habacuque explica às pessoas que a solução de Deus nem sempre seria mensurável quando esta aparecesse. “Pois a visão aguarda um tempo designado; ela fala do fim e não falhará. Ainda que se demore, espere-a; porque ela certamente virá e não se atrasará” (2.3). A pessoa não deve desistir – precisa confiar que a salvação de Deus virá.

Em seguida, Deus esclarece como isso acontece: “Eis que a sua alma está orgulhosa! A sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé” (2.4, NAA). O caminho dos maus e a revolta contra Deus não levam a lugar algum. O justo promove a vida. Tais crises são superadas na vida pessoal mediante o poder da fé. A verdadeira fé de uma pessoa justa leva à convicção de que o mundo nem sempre é claro e nítido. Às vezes fica difícil compreender o mundo. O justo não procura a confrontação, mas vive em seu mundo espiritual interior e assim influencia o mundo exterior. É dessa maneira que Habacuque confronta os injustos: “De que vale uma imagem feita por um escultor? Ou um ídolo de metal que ensina mentiras? Pois aquele que o faz confia em sua própria criação, fazendo ídolos incapazes de falar. Ai daquele que diz à madeira: ‘Desperte!’ Ou à pedra sem vida: ‘Acorde!’ Poderá o ídolo dar orientação? Está coberta de ouro e prata, mas não respira. O Senhor, porém, está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra” (2.18-20).

No fim, Habacuque recebeu uma resposta de Deus que acalmou a sua alma. O terceiro e último capítulo do livro é como um salmo e hino de louvor a Deus. Deus é o dominador das forças da natureza. E, assim, Habacuque finaliza seu louvor com as seguintes palavras: “Ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. O Senhor, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos” (3.18-19).

sumário Revista Chamada Abril 2020

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