Fé, Amor, Sofrimento e o Retorno do Senhor
O apóstolo Paulo revela em poucas palavras a importância de uma fé viva e de um amor ativo tendo em vista nossos sofrimentos e o retorno do Senhor.
No início da sua segunda carta aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo escreve: “Irmãos, devemos sempre dar graças a Deus por vocês; e isso é justo, porque a fé que vocês têm cresce cada vez mais, e muito aumenta o amor de todos vocês uns pelos outros. Por esta causa nós nos gloriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando” (2Ts 1.3-4).
Já em 1Tessalonicenses, Paulo escrevia: “Sempre damos graças a Deus por todos vocês, mencionando-os em nossas orações. Lembramos continuamente, diante de nosso Deus e Pai, o que vocês têm demonstrado: o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1.2-3). Nesse intervalo de tempo, sua fé e seu amor se confirmaram e até haviam crescido, de modo que Paulo se sentiu compelido à gratidão: “Irmãos, devemos sempre dar graças a Deus por vocês; e isso é justo...” (2Ts 1.3).
Provavelmente todos nós já demos graças por alguém alguma vez, mas quem de nós já sentiu uma efetiva dívida de gratidão por alguém? Conhecemos sentimentos de culpa ou dívida em razão de oportunidades perdidas, reações erradas, comportamento inadequado ou pecado. Mas certamente poucos conhecem um sentimento de dívida de gratidão a Deus por outros. “Deus, estou em dívida contigo por meu irmão, minha irmã, minha esposa, meu marido, nossos filhos, pelos pais, por alguma obra missionária...”. Devemos gratidão a Deus por aquilo que ele colocou em outras pessoas para com isso glorificar o nome dele, para abençoar outros ou para engrandecer o seu nome. Devemos graças a Deus porque outros o honram, lhe obedecem e expõem um bom testemunho.
A dívida de gratidão tinha dois motivos para Paulo, Silvano e Timóteo:
Primeiro, “porque a fé que vocês têm cresce cada vez mais” (2Ts 1.3). Em 1Tessalonicenses, Paulo ainda havia escrito: “Noite e dia insistimos em orar para que possamos vê-los pessoalmente e suprir o que falta à sua fé” (1Ts 3.10). Na segunda carta, ele pode expressar sua alegria pelo firme crescimento da fé que eles tinham. Quando foi que agradecemos a Deus pela fé do nosso próximo? Também podemos perguntar o inverso: será que outros podem dar graças a Deus por causa da nossa fé? O que os outros enxergam em nós? Verão mais fé, fé crescente, fé que cresce cada vez mais? Será possível reconhecer em nós transformações que causem espanto em outros, de modo a se sentirem obrigados a agradecer?
É notável o valor que a Bíblia dá ao crescimento: “Quanto ao mais, irmãos, já os instruímos acerca de como viver a fim de agradar a Deus e, de fato, assim vocês estão procedendo. Agora pedimos e exortamos a vocês no Senhor Jesus que cresçam nisso cada vez mais” (1Ts 4.1).
Cabe aqui perguntar se, afinal, a fé pode crescer. A fé da conversão não seria a maior? O que se pretende dizer com fé que cresce cada vez mais? Que mortos ressuscitem? Que montanhas se movam? Que o impossível se torne possível? É possível crer mais do que crer? Afinal, só se pode crer ou então não crer?
“Deus, estou em dívida contigo por meu irmão, minha irmã, minha esposa, meu marido, nossos filhos, pelos pais.”
O que, então, significaria uma fé crescente? O contexto esclarece. Tratava-se de sua obra na fé, sua crescente firmeza e fidelidade na fé em todas as perseguições e atribulações: “... nós nos gloriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando” (2Ts 1.4). “Lembramos continuamente... o que vocês têm demonstrado: o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança...” (1Ts 1.3).
Os frutos da sua fé cresciam visivelmente, e ela se confirmava de forma cada vez mais nítida na vida diária. Também poderíamos afirmar isso a nosso respeito? Poderíamos afirmar que, em vez de arrefecer com o tempo, nos tornamos cada vez mais firmes e aprovados?
Segundo, “muito aumenta o amor de todos vocês uns pelos outros” (2Ts 1.3). Não só a fé, também o amor crescia e se aprovava cada vez mais visivelmente. Não só o amor da igreja em termos gerais, mas o amor de cada um individualmente. O Espírito Santo visa a cada um individualmente. Ele vê tanto o amor da nossa comunidade como também o amor que exercemos pessoalmente. Esse amor se aplica a todos. Ele não admite exceções. Simpatia e antipatia são dominadas pelo amor, não o inverso. O amor é o valor maior. O poeta francês Jacques Prévert disse: “Não existem cinco ou seis maravilhas do mundo, mas apenas uma: o amor”. Isso animou Paulo a dar graças e a louvar.
“Por esta causa nós nos gloriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando.” (2Ts 1.4)
Paulo se gloriava ao lembrar dos tessalonicenses. Não haveria algum orgulho aí? Talvez, mas num sentido bom e espiritual – fazia parte do frutífero trabalho de Paulo e de seus colaboradores, que Deus confirmara. Da mesma forma como pais podem se alegrar pelos filhos obedientes, como um mestre pode se alegrar por um aprendiz, um professor por um aluno ou um jardineiro por uma planta que cultivou, Paulo podia se alegrar pelos tessalonicenses e, em certo sentido, até se gloriar. Afinal, aquela igreja era uma prova de trabalho bem feito que o Espírito de Deus pôde realizar por intermédio de Paulo e dos seus colaboradores. Era, sim, tudo graça imerecida, mas ainda assim louvável.
“Por esta causa nós nos gloriamos em vocês entre as igrejas de Deus pela perseverança e fé demonstrada por vocês em todas as perseguições e tribulações que estão suportando. Elas dão prova do justo juízo de Deus e mostram o seu desejo de que vocês sejam considerados dignos do seu Reino, pelo qual vocês também estão sofrendo. É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação” (2Ts 1.4-6). Este texto não muito simples informa-nos sobre o sentido do sofrimento. Enquanto nós muitas vezes achamos que sofrimento, perseguição e tribulação são injustos, esta passagem nos corrige. São sinais do justo juízo de Deus.
Justamente o último livro da Bíblia, o livro do juízo e do “dia do Senhor”, expõe os justos caminhos e os juízos de Deus. E aqueles que os testificam devem saber do que se trata. Os vencedores “cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro: ‘Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos’” (Ap 15.3-4). “Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: ‘Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas’. E ouvi o altar responder: ‘Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos’” (Ap 16.5,7). Uma grande multidão no céu testifica: “Pois verdadeiros e justos são os seus juízos. Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com a sua prostituição. Ele cobrou dela o sangue dos seus servos. Vi os céus abertos e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça” (Ap 19.2,11).
1. Para os crentes
O sofrimento é uma “prova do justo juízo de Deus” e destina-se a que “vocês sejam considerados dignos do seu Reino, pelo qual também estão sofrendo” (2Ts 1.5). Não confunda isso com justificação pelas obras. Sabemos que somos salvos exclusivamente pela graça e que alcançaremos apenas pela graça o celeste e glorioso alvo de habitar com Deus. Esta é uma verdade fundamental e imutável.
“Deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.5-9)
O sofrimento, porém, é uma prova adicional da graça. Deus o permite na vida da sua igreja como mais um meio ou instrumento da graça. Sofrer pelo reino de Deus serve para a glorificação e para sermos “considerados dignos do seu Reino” (2Ts 1.5).
A carta aos Romanos esclarece isso: “Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória. Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8.17-18).
Não somos salvos para ficar imunes a todo sofrimento, mas para sofrer e herdar o reino dos céus por graça. Por isso, essas três coisas andam juntas:
- Nos tornamos coerdeiros;
- Sofremos com ele;
- Seremos glorificados com ele.
“O Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de terem sofrido por pouco tempo, os restaurará, os confirmará, os fortalecerá e os porá sobre firmes alicerces.” (1Pe 5.10)
2. Para os não-crentes
“É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação” (2Ts 1.6). A igreja de Jesus era e continua sendo perseguida e atribulada pelos inimigos de Deus. Deus vingará os crentes dos não-crentes, o que é absolutamente justo. Por isso também está escrito: “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor” (Rm 12.19). O justo juízo de Deus serve aos crentes para o seu aperfeiçoamento e para os ímpios como retribuição. Ambos são absolutamente justos e uma compensação justa.
A fé pode crescer? A fé da conversão não seria a maior? É possível crer mais do que crer? Afinal, só se pode crer ou então não crer?
O tempo da revelação, mencionado no versículo seguinte, é o da retribuição, da vingança, da ira de Deus sobre os filhos da impiedade. A igreja não pertence a esse tempo. “Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele seremos salvos da ira de Deus!” (Rm 5.9).
Na presente dispensação, Deus permite juízo sobre seus filhos, o qual provém daqueles que não vivem na obediência da fé, mas serve para a glória da igreja. Todavia, na transição para a era vindoura, os descrentes serão jugados por aqueles que agora sofrem.
“E dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos...” (2Ts 1.7). A revelação mencionada no nosso texto é a de Jesus Cristo, da qual o livro de Apocalipse trata detalhadamente. Entendo isso no sentido de que antes a igreja terá entrado no repouso celestial por ter sido salva da ira iminente, da retribuição de Deus, não precisando enfrentar os terrores da grande tribulação (cf. 1Ts 1.10; 4.13-18; 5.9). Assim, os que hoje faleceram em Cristo, bem como os mártires do futuro, encontram-se sob o altar no repouso de Deus (cf. Ap 6.11; 14.13). A morte, ou a ressurreição, e o arrebatamento são a entrada para o repouso de Deus.
Em seguida, por ocasião da revelação do Senhor Jesus a partir do céu, a igreja ressurgirá desse repouso triunfante juntamente com ele, com seus apóstolos e os seus poderosos anjos. Se a igreja ainda se encontrasse na terra, não seria possível falar de repouso. Assim, porém, ela desfruta de repouso enquanto os juízos desabam sobre a terra.
No contexto do Antigo Testamento, a igreja ainda não havia sido revelada, razão por que os profetas só podiam escrever sobre a vinda do Senhor com os seus santos: “Então o Senhor, o meu Deus, virá com todos os seus santos” (Zc 14.5c). Também Enoque não viu a igreja: “Enoque, o sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles: ‘Vejam, o Senhor vem com milhares de milhares de seus santos, para julgar a todos e convencer todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade que eles cometeram impiamente acerca de todas as palavras insolentes que os pecadores ímpios falaram contra ele’” (Jd 14-15).
No Novo Testamento torna-se claro, ao longo do desenvolvimento da revelação, que a igreja também participará desse retorno. Assim, está escrito: “E dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos...” (2Ts 1.7). “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Cl 3.4). “Que ele fortaleça o coração de vocês para serem irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos” (1Ts 3.13). “Os exércitos dos céus o seguiam, vestidos de linho fino, branco e puro, e montados em cavalos brancos” (Ap 19.14).
Assim como um jardineiro se alegra por uma planta que cultivou, Paulo podia se alegrar pelos tessalonicenses e, em certo sentido, até se gloriar.
Nesse tempo Jesus terá julgado o Universo a partir do céu com seus poderosos anjos, porque a igreja, sendo seu corpo, é o órgão executor comandado pela cabeça. “Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo?... Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?” (1Co 6.2-3a). Por isso lemos adiante: “... em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2Ts 1.7-8).
Esse versículo esclarece que a revelação do Senhor atingirá todo o período da tribulação – o juízo em chamas flamejantes e o período da retribuição –, não somente sua aparição no seu término. Estas menções são uma breve indicação daquilo que o Apocalipse trata mais detalhadamente. Basta ler ali o quanto se trata do juízo pelo fogo. O assunto atravessa todo o último livro da Bíblia:
“Então o anjo pegou o incensário, encheu-o com fogo do altar e lançou-o sobre a terra. O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço das árvores e toda a relva verde. O segundo anjo tocou a sua trombeta, e algo como um grande monte em chamas foi lançado ao mar. Um terço do mar transformou-se em sangue. Um terço da humanidade foi morto pelas três pragas: de fogo, fumaça e enxofre, que saíam da boca dos cavalos. Se alguém quiser causar-lhes dano, da boca deles sairá fogo que devorará os seus inimigos. É assim que deve morrer qualquer pessoa que quiser causar-lhes dano. E ainda outro anjo, que tem autoridade sobre o fogo, saiu do altar e bradou em alta voz àquele que tinha a foice afiada: ‘Tome sua foice afiada e junte os cachos de uva da videira da terra, porque as suas uvas estão maduras!’ O quarto anjo derramou a sua taça no sol, e foi dado poder ao sol para queimar os homens com fogo. Por isso num só dia as suas pragas a alcançarão: morte, tristeza e fome; e o fogo a consumirá, pois poderoso é o Senhor Deus que a julga.” (Ap 8.5,7-8; 9.18; 11.5; 14.18; 16.8; 18.8)
Ali ocorre o que o Antigo Testamento predisse sobre o Dia do Senhor e que não se aplicou ao período da graça na dispensação da igreja. A respeito da vinda do Senhor nos tempos do fim, Isaías já dizia: “Vejam! O Senhor vem num fogo, e os seus carros são como um turbilhão!” (Is 66.15). “Fogo vai adiante dele e devora os adversários ao redor. Seus relâmpagos iluminam o mundo; a terra os vê e estremece. Os montes se derretem como cera diante do Senhor, diante do Soberano de toda a terra. Os céus proclamam a sua justiça, e todos os povos contemplam a sua glória (Sl 97.3-6). “Pois o nosso ‘Deus é fogo consumidor!’” (Hb 12.29). Durante essa revelação, a igreja está em paz e julga o mundo (o Universo) junto com Cristo, tal como foi mencionado acima. Serão julgados aqueles que rejeitaram o evangelho.
“... os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2Ts 1.8). Isso inclui também grande parte do povo judeu. Particularmente sobre eles, Paulo diz na carta aos Romanos: “... que eu esteja livre dos descrentes da Judeia...” (Rm 15.31). “Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência” (Ef 5.6). “É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência” (Cl 3.6).
“A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor a fim de que creiam na mentira e sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça” (2Ts 2.9-12).
O juízo atinge os descrentes, que rejeitam o evangelho, não os crentes em Jesus. Por isso me parece evidente que a igreja será separada disso. Portanto, ela não se encontrará mais sobre a terra, mas virá com ele em sua revelação em glória. O seguinte versículo também esclarece isso: “Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder” (2Ts 1.9).
Na versão alemã de Menge, o texto diz: “Estes sofrerão como castigo a ruína eterna longe da face de Deus e longe da glória do seu poder”. Aqui somos lembrados do juízo final: “Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença, e não se encontrou lugar para eles” (Ap 20.11). “Ruína eterna” significa separação da face do Senhor, separação da sua glória, perdição. Não se trata, porém, de aniquilação, mas de ruína, o que parece ser a imagem mais clara da perdição. “... todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo...” (2Ts 2.10).
No Novo Testamento torna-se claro, ao longo do desenvolvimento da revelação, que a igreja também participará desse retorno.
Perder-se ou perecer significa separação de Deus. Ele os perde, eles o perderam. Não se participa de absolutamente nada daquilo que ele é e possui – longe da glória do seu poder. Seu poder se expressa no perdão, na eficácia do seu amor. Quem estiver fora do alcance disso, perdeu tudo – a própria pessoa está perdida.
“Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram, inclusive vocês que creram em nosso testemunho” (2Ts 1.10). Isto é o oposto da perdição: participar da glória em sua presença direta. Quando Jesus voltar, os crentes participarão dela. Eles estarão na presença da sua glória desde o arrebatamento. No seu retorno com ele, serão revelados em sua glória. Jesus voltará na nuvem dos seus santos e nela será glorificado. Ele receberá a admiração daqueles que creem. Por uma questão de contexto, comparo isso novamente com dois versículos:
“E dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos...” (2Ts 1.7). “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Cl 3.4). Trata-se aqui principalmente da sua vinda e de sua glorificação. Jesus é o objeto da adoração, da glorificação e da admiração.
Não somos salvos para ficar imunes a todo sofrimento, mas para sofrer e herdar o reino dos céus por graça.
Paulo enfatiza que “vocês... creram em nosso testemunho” (2Ts 1.10). A fé é a única condição para participar. Isso quer dizer que, com quem quer que o testemunho da Escritura Sagrada encontre fé, este participará de toda a glória.
“Conscientes disso, oramos constantemente por vocês, para que o nosso Deus os faça dignos da vocação e, com poder, cumpra todo bom propósito e toda obra que procede da fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus será glorificado em vocês, e vocês nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.11-12). A origem de tudo é Deus. A fonte de que tudo emana é o Senhor. Deus provê tanto o querer como o realizar. Ele é o autor e consumador da fé (cf. Fp 1.6; 2.13; Hb 12.2). Tudo em nós é e continua sendo uma dádiva que vem da graça de Deus em Jesus.
“O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço das árvores e toda a relva verde.”
É Deus também que nos torna dignos da vocação, capacitando-nos a atingir o alvo proposto. Parafraseando a tradução bíblica alemã de Menge, o texto diz: “Tendo isso em vista, também oramos constantemente por vocês para que o nosso Deus os considere dignos da vocação [definitiva] e complete poderosamente em vocês todo o prazer no bem e a obra da fé [em vocês]” (2Ts 1.11).
A Nova Versão Transformadora traduz o versículo assim: “Assim, continuamos a orar por vocês, pedindo a nosso Deus que os capacite a ter uma vida digna de seu chamado e lhes dê poder para realizar as coisas boas que a fé os motivar a fazer”.
Todo aquele que tem fé no testemunho da Escritura Sagrada, este participará de toda a glória.
Provavelmente Paulo quer dizer com isso que sua oração seria para o Senhor completar poderosamente neles todo o bem, toda a obra e todo o trabalho executado na fé, e que nada se perdesse. Trata-se de Deus os considerar dignos nesse sentido, concedendo-lhes que executem e completem a obra de fé dos apóstolos em obediência de fé e no prazer pelo bem. Portanto, também deve ser nosso pedido de oração prioritário que o Senhor nos dê para que não fiquemos descuidados, mostremos fidelidade até o fim e permaneçamos firmes.
“A fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vocês e vocês sejam glorificados nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.12, NAA). É assim que termina o primeiro capítulo: “A fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado”. Este sempre será o alvo supremo: a glorificação do nome do Senhor em nossa igreja, em nosso trabalho e, evidentemente, em nós pessoalmente. Esse era o motivo primário da oração de Paulo.
Isto se dará quando ele, “pelo seu poder, realize todos os desejos que vocês têm de fazer o bem e complete o trabalho que fazem com fé” (v. 11, NTLH). Isso se dará se – passando por todas as dificuldades, oposições, lutas e provações – completarmos a obra e provarmos ser fiéis. Até então, aquilo havia sido o caso com os tessalonicenses, e Paulo orava pedindo que continuasse assim. Dessa forma (se vencermos e completarmos a obra com a ajuda de Deus, como ele a completou) seremos um grande testemunho do nome do Senhor; nos destacaremos como seus seguidores, como quem propaga o seu nome e o defende, como cristãos que provêm de Cristo. Por isso o texto também continua dizendo “e vocês nele” (v. 12).
Perder-se ou perecer significa separação de Deus. Ele os perde, eles o perderam. Não se participa de absolutamente nada daquilo que ele é e possui.
Segundo os versículos 7 e 10, a igreja será revelada na glória dele quando ele vier. Portanto, temos uma interação: nós o glorificamos por nossa fidelidade e assim seremos glorificados nele quando ele voltar.
“... segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.12). Já mencionei que é o Senhor quem precisa nos conceder a graça, o impulso e a persistência no Espírito. Nós, porém, devemos reagir a isso com fidelidade. Se com o passar do tempo nos tornássemos infiéis, negligenciássemos a obra de que fomos encarregados, o nome do Senhor Jesus não seria glorificado em nós. Por isso oramos e tratamos que isso não aconteça e que a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo continue a operar em nós, e não se torne vã.