A Carta aos Romanos: Capítulo 15

Somos devedores (v. 1-7)

A igreja de Jesus não é um clube exclusivista ao qual apenas os ricos e belos têm acesso. Pelo contrário, a igreja de Jesus é uma comunidade de todos aqueles que experimentaram a redenção pelo sangue do Cordeiro. Ela inclui fortes e fracos, capazes e menos capazes, pessoas mais habilidosas e também aquelas que logo esbarram nos seus limites.

“São justamente os fortes que devem se destacar pela dedicação aos fracos, indo ao seu encontro com compaixão e respeito.”

Por ser assim, Paulo escreve: “Ora, nós que somos fortes na fé temos de suportar as debilidades dos fracos e não agradar a nós mesmos” (Rm 15.1). Os “fortes” também tendem a sobrecarregar os mais fracos. Diante disso, somos desafiados a que “cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação” (Rm 15.2).

São justamente os fortes que devem se destacar pela dedicação aos fracos, indo ao seu encontro com compaixão e respeito. O argumento para esse comportamento é o próprio Jesus Cristo: “Porque também Cristo não agradou a si mesmo; pelo contrário, como está escrito: ‘Os insultos dos que te insultavam caíram sobre mim’” (Rm 15.3).

Se fizermos isso, o mundo reconhecerá que somos filhos de Deus, porque quando o amor abre caminho baseado na fé bíblica, isso aplaina o caminho para o evangelho. “Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Todos estão convidados (v. 8-13)

No antigo judaísmo, pensava-se que o Deus da Bíblia era exclusivo para Israel, que Deus só falava hebraico e que a oferta de salvação de Deus valia apenas para os judeus. Paulo agora acaba com esse equívoco. Ele se reporta ao Antigo Testamento, citando Davi, Moisés e também o “evangelho” de Isaías. Com todas essas citações, Paulo prova que o objetivo de Deus sempre foi a salvação do homem, tanto dos judeus como dos gentios.

Deus quer salvar, ninguém precisa se perder: “Vocês pensam que eu tenho prazer na morte do ímpio? – diz o Senhor Deus. Não desejo eu muito mais que ele se converta dos seus caminhos e viva?” (Ez 18.23).

“E o Deus da esperança encha vocês de toda alegria e paz na fé que vocês têm, para que sejam ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm 15.13).

Que diferença entre o final da carta aos Romanos e o seu início! Se antes éramos pecadores perdidos (Rm 1–3), hoje estamos salvos. Se antes estávamos vendidos sob o pecado, hoje servimos ao Senhor Jesus. Se antes a nossa vida estava marcada por medo e insegurança, hoje estamos cheios de alegria, esperança e confiança. Se antes éramos escravos do Diabo, hoje somos filhos de Deus. Se antes éramos um joguete dos nossos prazeres e instintos, hoje a nossa vida pertence a Jesus e podemos segui-lo no poder do seu Santo Espírito.

A certeza de Paulo (v. 14-21)

Paulo tem uma grande certeza, sim, uma profunda e firme convicção a respeito dos crentes em Roma, a ponto de escrever: “E eu mesmo, meus irmãos, estou certo de que vocês estão cheios de bondade, têm todo o conhecimento e são aptos para admoestar uns aos outros” (Rm 15.14).

Apesar de Paulo não conhecer pessoalmente a igreja em Roma e de nunca a ter visitado, e também não conhecer as condições de vida ou a vida diária daqueles crentes, ele escreve: “Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus” (Rm 15.17).

Paulo pode fazer isso porque ele conhece o supremo pastor da igreja, Jesus Cristo. Ele sabe que a igreja está mas melhores mãos. Sabe que naqueles crentes habita o Espírito Santo de Deus, e por isso também sabe que Jesus alcançará o alvo com sua igreja e completará tudo, porque sabe que Jesus é o “Autor e Consumador da fé” (Hb 12.2).

“Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus” (Rm 15.17). Jesus é o motivo! Não foi nem mérito de Paulo, nem seus esforços que levaram aquelas pessoas a Jesus. Pelo contrário, Paulo diz: “Porque não ousarei falar sobre coisa alguma, a não ser sobre aquelas que Cristo fez por meio de mim, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras” (Rm 15.18).

Paulo sabe que somente Deus é o autor e consumador da fé. Embora Paulo fosse o instrumento, é Deus o que move, que efetua, que concede o sucesso. Deus havia habilitado Paulo em especial para o ministério apostólico, como ele mesmo testifica: “Por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito de Deus. Assim, desde Jerusalém e arredores até o Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15.19).

 “Embora Paulo fosse o instrumento, é Deus o que move, que efetua, que concede o sucesso.”

Ainda que Paulo tenha obedecido ao chamado para o ministério do evangelho e tenha exercido este com dedicação, é o próprio Deus aquele que concede o sucesso. Deus é a origem da igreja. Foi assim naquela ocasião em Roma e é assim em toda parte em que nasce e cresce a igreja de Deus, conforme Jesus disse: “Também eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

Paulo, o semeador

Paulo havia trabalhado de acordo com as diretrizes bíblicas: arou, preparou a terra, semeou e regou, mas o crescimento é só Deus que pode conceder.

Também nós podemos anunciar a Palavra de Deus, esforçar-nos, viajar como missionários, dar testemunho no nosso emprego, viver uma vida bem próxima às Escrituras, ser luz e sal no lugar em que Deus nos colocou. Produzir fruto, porém, é obra exclusiva de Deus. Só ele pode mover o ser humano e conduzi-lo ao novo nascimento.

É isso o que Paulo enfatiza quando escreve que “não ousarei falar sobre coisa alguma, a não ser sobre aquelas que Cristo fez por meio de mim, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras” (Rm 15.18).

Esse fato nos torna dependentes de Deus e também humildes, porque sabemos que por nós mesmos não o conseguiremos. Somente Deus é o autor e consumador da fé. O conhecimento disso nos aproxima mais da Palavra de Deus, contando com o seu poder e ainda muito mais com a atuação do seu Santo Espírito.

“Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já foi anunciado, para não edificar sobre alicerce alheio. Pelo contrário, como está escrito: ‘Aqueles que não tiveram notícia dele o verão, e os que nada tinham ouvido a respeito dele o entenderão’” (Rm 15.20-21).

Para Paulo só uma coisa importa: toda pessoa precisa conhecer o evangelho, esse evangelho da graça, do perdão dos pecados, de que ninguém precisa se perder e que proporciona esperança e vida eterna. Paulo está tão impregnado desse evangelho que não pode deixar de transmiti-lo.

Por isso, Paulo olha para o futuro e prepara planos de viagem.

Planos de viagem (v. 22-29)

Paulo integra a igreja de Roma em seus planos de viagem – afinal, somos devedores de todos, comprometidos em transmitir o evangelho. Esta é também a nossa missão, porque anunciar o evangelho não é tarefa de alguns poucos, nem a especialidade de algum missionário ou colaborador de alguma obra missionária. Não, é missão de todos nós, conforme Paulo escreve: “Pois espero que... vocês me encaminhem para lá, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a companhia de vocês” (v. 24).

Cabe então a pergunta: o que fazemos pessoalmente para divulgar o evangelho de Jesus Cristo em torno de nós? O que fazemos para que essa mensagem da redenção seja amplamente disseminada e os nossos colaboradores e missionários possam realizar seu serviço?

Receber para dar

Assim, então, Paulo chega ao seu último pensamento nesse capítulo, quando escreve: “Mas agora estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. Porque a Macedônia e a Acaia resolveram levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, e de fato lhes são devedores. Porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais. Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado este fruto, irei à Espanha, passando por aí” (Rm 15.25-28).

Temos aqui crentes assumindo a responsabilidade de divulgar o evangelho porque eles mesmos foram abençoados pelo evangelho, e assim convém que eles também passem essa bênção adiante para outros. Paulo enxerga nisso um processo perfeitamente natural e por isso ele escreve: “Porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus [trata-se na ocasião da igreja em Jerusalém], devem também servi-los com bens materiais” (Rm 15.27).

Portanto, o evangelho é sempre uma reação a uma ação, um recebimento destinado a dar, é ser abençoado para abençoar outros.

“Os mensageiros do evangelho são sempre mensageiros de bênçãos, já que nunca chegam de mãos vazias.”

“E bem sei que, ao visitá-los, irei na plenitude da bênção de Cristo” (Rm 15.29).

Os mensageiros do evangelho são sempre mensageiros de bênçãos, já que nunca chegam de mãos vazias. Assim, o evangelho oferece perdão ao pecador arrependido, encoraja o desanimado, admoesta o orgulhoso, corrige o que está em erro, fortalece o enfermo, consola o enlutado e dirige a visão do moribundo para a pátria vindoura superior. Isso e muito mais é o que o evangelho concede. Por isso, Paulo pode escrever: “E bem sei que, ao visitá-los, irei na plenitude da bênção de Cristo”.

Transmitindo bênção (v. 30-32)

Com esse convite, Paulo se dirige mais uma vez aos seus leitores. Ele deseja que abandonem a arquibancada e se dirijam à arena da luta pela fé. Ele quer que deixem de ser apenas ouvintes e se tornem também praticantes, companheiros de luta, ajudando, orando e colaborando no reino de Deus, fazendo do evangelho a missão da sua vida. É nesse sentido que ele então escreve:

“E o Deus da paz esteja com todos vocês. Amém!” (Rm 15.33).

Samuel Rindlisbacher é ancião da igreja da Chamada na Suíça e foi fundamental no desenvolvimento do grande ministério de jovens dela.

sumário Revista Chamada Julho 2023

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