A Revolução da Vida

Sexta-feira Santa, Páscoa. Jesus Cristo morreu no Gólgota e foi colocado no túmulo. No terceiro dia, porém, o túmulo estava vazio. O Senhor ressuscitou da morte. Ele é a nossa esperança viva.

Na Sexta-feira Santa, Jesus Cristo morreu para todo e qualquer modo de pensar ou de agir que ignora a Deus. Ele morreu na cruz por essa pavorosa doença que traz a morte para o mundo, para o pecado. Jesus morreu. No entanto, no terceiro dia o túmulo estava vazio – o Senhor ressuscitou e vive! A morte foi derrotada.

  • As primeiras pessoas que encontraram o Jesus ressuscitado não o reconheceram:
  • Maria Madalena imaginou que fosse o jardineiro do cemitério;
  • Tomé duvidou se realmente tratava-se de Jesus;
  • Alguns discípulos, com Pedro, foram pescar. Eles não reconheceram o Senhor ressuscitado que estava na margem do lago;
  • Os dois discípulos que estavam a caminho de Emaús não reconheceram Jesus;
  • Quando o Senhor ressuscitado repentinamente estava dentro da sala entre os discípulos, estes ficaram paralisados de susto. Eles imaginavam estar vendo um espírito.
A ressurreição significa a mobilização do poder de Deus! A força da vida derrotando o poder da morte.

Até hoje acontecem reações semelhantes. Nossas preocupações, nossas dúvidas, nossa autocomiseração, nossa vida levada arbitrariamente, nossas expectativas egoístas – resumindo: nossa concepção errada sobre Deus impede que reconheçamos o Senhor ressuscitado. Todavia, a ressurreição significa a mobilização do poder de Deus! A força da vida derrotando o poder da morte. E esse acontecimento está focado na pessoa de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11.25-26).

Na Torá encontram-se cerca de nove a dez versículos claramente reconhecíveis e amplamente vistos como profecias messiânicas.

Roma em chamas

Em 64 d.C., a cidade de Roma estava em chamas. Igrejas, santuários e estátuas de deuses também foram alcançados pelas labaredas. A fúria do fogo perdurou vários dias. Um terço da cidade foi destruído. Um número incontável de pessoas morreu nas chamas. O mau humor de Nero aumentou e esse rei diabolicamente inspirado dirigiu a suspeição de autoria dos incêndios à minoria dos cristãos. Com isso iniciou-se uma terrível perseguição. Ela se estendeu por todo o Império Romano, chegando nas montanhas de Tauro, na Ásia Menor, em localidades como Ponto, Galácia, Capadócia ou Bitínia, ali onde Paulo havia viajado com seus amigos para proclamar as boas novas do amor de Deus.

Uma pessoa age de acordo com o que ela mesma considera ser. O que você é determina aquilo que você faz. Para viver como o filho do rei é necessário primeiramente se considerar como o filho do rei.

Nesse difícil período, Pedro ditou uma carta ao seu escritor e amigo Silvano. Os destinatários são cristãos sofrendo crescente perseguição, espalhados pelo Império Romano, ou seja, pessoas que entregaram suas vidas a Deus, mas que viviam em circunstâncias externas muito difíceis. Eles precisavam urgentemente de incentivo! Pedro escreveu: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).

Numa só frase, Pedro lembra de quatro verdades:

  1. A misericórdia de Deus;
  2. A nova vida;
  3. A ressurreição de Jesus;
  4. A viva esperança.

1. A misericórdia de Deus

O fato de que Deus se importa pelas pessoas que viram suas costas a ele está ligado ao seu caráter e seu ser: Deus é misericordioso. O Deus soberano é “compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade” (Êx 34.6). Foi desse modo que ele se apresentou a Moisés. E assim o seu Filho também agiu. Jesus tinha misericórdia dos pecadores. Ele estava próximo daqueles que se consideravam espiritualmente pobres e que necessitavam de ajuda. Pelo contrário, Jesus nunca comemorou uma festa com dignitários religiosos, mas sim com pecadores e publicanos.

O filme “Ironweed” trata de pessoas sem-teto. Em uma das cenas, ao caminharem no escuro, Jack Nicholson e Meryl Streep tropeçam numa velha mulher esquimó embriagada, que estava deitada na neve. Jack e Meryl trocam ideias sobre o que deveriam fazer:

“Ela está embriagada ou é uma andarilha?”

“Uma andarilha, sempre foi.”

“E antes disso?”

“Ah, ela era uma prostituta no Alasca.”

“Ela não foi uma prostituta durante toda a vida. O que ela era antes disso?”

“Não sei! Provavelmente era uma criança pequena.”

“Pois bem, uma criança pequena, isso é alguma coisa. Isso não é andarilha, nem prostituta. Vamos levá-la para um local aquecido.”

Os dois enxergaram a mulher esquimó através da lente da misericórdia! Ali onde a sociedade enxerga uma andarilha e prostituta, a graça e a misericórdia de Deus enxergam uma filha!

Quando você se enxerga como um fracassado, Deus o vê como uma pessoa formada à sua imagem. Ele enxerga você como um filho. Você também se vê dessa maneira?

“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1Jo 3.1).

Os versículos seguintes nos mostram uma situação que vale a pena suportar: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2).

O que significa isso? Que a perfeição, a conclusão, o ser semelhante a Cristo é algo futuro. Não é a nossa prioridade agora. O que nós somos aqui e agora? Filhos de Deus! Essa é a promessa de Deus e nossa esperança. Somos filhos de Deus. Essa é a nossa posição. Sendo filho de Deus, começo a viver de acordo com a concepção de Deus.

Uma pessoa age de acordo com o que ela mesma considera ser. O que você é determina aquilo que você faz. Para viver como o filho do rei é necessário primeiramente se considerar como filho do rei. Os cristãos são filhos de Deus, e o somos aqui e hoje.

2. A nova vida

Pedro escreveu que Deus “nos regenerou”. Jesus falou diretamente para o escriba Nicodemos: “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3.3). Precisamos de uma mudança por meio de um correto pensamento a respeito de Deus: uma conversão espiritual, uma nova mentalidade, um novo direcionamento de pensamentos em nosso coração. O novo nascimento acontece quando uma pessoa se entrega totalmente a Jesus Cristo, com gratidão e humildade, colocando nele toda sua confiança. Essa pessoa se torna uma nova criatura em Cristo (2Co 5.17).

Em Cristo adquirimos uma nova identidade. Nós estamos em Cristo e, com isso, somos:

  • Sal da terra (Mt 5.13);
  • Luz do mundo (Mt 5.14);
  • Coerdeiros com Cristo (Rm 8.17);
  • Cidadãos do céu (Fp 3.20);
  • Escolhidos de Deus (Cl 3.12);
  • Justificados (Rm 3.24);
  • Comprados por alto preço para Deus (1Co 6.20);
  • Selados em Cristo (Ef 1.13);
  • Portadores de todas as bênçãos espirituais (Ef 1.3).

Essas características estão em vigor. Elas estão baseadas na obra e na ação de Deus. O Diabo ataca essa verdade. Ele nos atinge em nossos pontos fracos – no corpo, no sentimento e na mente. Nossa confiança fica sob pressão. Subitamente estamos novamente nos concentrando naquilo que é visível. Nós olhamos ao invés de crer. Ficamos preocupados, duvidamos, temos medo, nos baseamos em nossa razão – e deixamos de enxergar o Senhor ressurreto. Voltamos a viver sem Deus, seguindo os velhos modelos de pensamento. Permitimos que nos seja roubada a liberdade em Cristo.

Assim, nossos pensamentos ficam embaralhados. Ao orarmos, após três frases já somos lembrados de mil coisas que estão em andamento e que deveríamos fazer. O mesmo acontece ao lermos a Bíblia ou algum bom livro. Quando se trata de algum serviço, ficamos desanimados e duvidamos de nós mesmos: “Tenho pouco conhecimento bíblico”, “não tenho o dom para isso”, “sou um cristão fraco”. Assim, a vida cristã acaba se arrastando, às vezes durante vários anos, carregada pela fraca esperança de provavelmente nem estar presente na volta de Jesus.

Pare! Pela fé precisamos resistir a isso. Tivemos uma dramática troca de comando em nossa vida: longe do causador da morte para junto do doador da vida; saindo da escuridão para a luz; saindo da zona da morte para a zona da vida. Jesus quebrou as correntes, concedeu perdão, libertou prisioneiros, rompeu amarras, sarou feridas e nos chamou para a liberdade. Unidos com Cristo, nascemos para a família de Deus, com participação na sua glória. Nós estamos nele e ele está em nós. Ele é a videira e nós somos os ramos. O seu poder flui em nós.

Certo dia eu vivenciei um temporal muito forte. Trovões rugiam. Eu sabia que havia caído um raio bem perto de onde eu estava. Depois que tudo se acalmou, fui dar um passeio com meu cachorro e subi ao lado de um pequeno riacho. Ali eu vi o lugar atingido pelo raio: a força do raio quebrou uma parte da árvore, com um metro de comprimento, arremessando-a a vários metros de distância. Esse pedaço da árvore estava completamente descascado, bem limpo e branco e tinha um cheiro maravilhoso.

Esse quadro ficou marcado para mim. Pessoas que nasceram de novo por meio da fé em Jesus são separadas, santificadas para Deus. Quando o Pai celeste as vê, ele as vê por meio de Cristo. E isso não tem nada a ver com nossas “boas intenções”, mas é consequência da misericórdia de Deus e da ação de seu poder, o qual nos concede nova vida. Se confiarmos em Jesus, ele perdoa a nossa culpa e passa a viver em nós com o seu poder.

3. A ressurreição de Jesus

A morte é o último e mais poderoso inimigo da pessoa. Jesus venceu esse inimigo. Ressurreição significa vitória sobre a morte e retorno à vida. A maior prova para a verdade da ressurreição é a transformação dos discípulos depois de reconhecerem o Senhor ressurreto.

A partir da ressurreição de Jesus ocorreu o início definitivo de um novo tempo. Sua ressurreição é uma revolução da vida.

De um certo modo, quando Jesus morreu por nós, o “aguilhão da morte” ficou nele – assim como uma abelha consegue dar apenas uma ferroada e depois morrer. No entanto, Jesus foi ressuscitado da morte. O amor venceu! Onde Jesus está presente, ali agem os poderes restauradores e vivificadores do mundo futuro.

A atmosfera do nosso planeta é constantemente atingida por um fluxo de partículas nucleares de alta energia, por meio da chamada radiação cósmica. A radiação gama também é parte disso. Ela é uma forma de luz invisível aos nossos olhos; no entanto, possui uma energia que é um trilhão de vezes maior do que a energia da luz visível. Quando falamos em Deus, estamos falando do Criador do Universo, que compôs todo o espectro eletromagnético e com isso criou inclusive os raios gama. No entanto, a força deles não é nada em comparação com a força que derrotou o poder da morte por ocasião da ressurreição de Jesus.

Paulo escreveu: “... a fim de que vocês conheçam... a incomparável grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação da sua poderosa força. Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita...” (Ef 1.18-20).

O poder do amor de Deus é maior do que todos os outros poderes no mundo. Ele opera naquele que crê nele. Conseguimos imaginar isso?

4. A viva esperança

A fé na ressurreição de modo algum representa uma esperança para tempos distantes, mas já está ativa agora. Lembro-me de uma história para ilustrar esse fato:

Era uma noite fria de inverno. As pessoas se encontraram na igreja. Um dos carros do estacionamento chamou atenção. Havia uma máquina de cortar grama carregada numa Kombi! De fato, no inverno mais profundo, alguém veio com um cortador de grama... O proprietário pretendia levar o aparelho para a oficina, para uma revisão. Foi uma decisão sábia! Ele contava com a realidade de que a primavera estava próxima, onde a grama cresceria rapidamente e o aparelho deveria estar preparado. Por isso ele solicitou que o serviço fosse feito no inverno. Isso é esperança viva!

A esperança da ressurreição não é apenas um desejo, mas algo fundamentado. Ela conta com a verdade de Jesus. Por isso Pedro escreveu sobre a “viva esperança”. E Paulo anotou: “... Cristo em vocês, a esperança da glória” (Cl 1.27). É assim que acontecerá. É o que está determinado no céu.

Jesus disse: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5.24).

Não estamos mais vivendo na zona da morte. A nova vida já iniciou! Nós viveremos, mesmo se morrermos.

A última consequência

Os dois discípulos cujos nomes não sabemos e que no dia da Páscoa estavam a caminho de Jerusalém para Emaús imaginavam que, com a morte de Jesus, a causa dele tinha sido perdida. Eles estavam enganados. Aquele desconhecido que subitamente estava a seu lado – e que eles primeiramente não reconheceram – era o Cristo ressurreto. Ele lhes apresentou uma perspectiva totalmente nova sobre o agir de Deus: Deus quer a vida. Ele ama as pessoas. O amor é mais forte do que a morte. Por isso, a ressurreição é a última consequência da fé cristã. A morte é obrigada a se desviar diante do poder e da glória de Deus. A partir da ressurreição de Jesus ocorreu o início definitivo de um novo tempo. Sua ressurreição é uma revolução da vida. Durante o jantar foram abertos os olhos dos dois discípulos. Eles reconheceram o Senhor ressurreto e sua mensagem sobre a nova vida!

Jesus não se interessa primariamente pela moral, mas por um envolvimento em um relacionamento com ele, basicamente uma perseguição a ele e uma imitação dos seus atos. Assim aprendemos a viver a partir de seu poder e a nos vermos em Cristo. Foi isso que Pedro escreveu aos cristãos desmotivados da Ásia Menor, chamando-os à consciência:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.”

Publicado com autorização de factum-magazin.ch.

Rolf Höneisen é o redator chefe da revista cristã ideaSpektrum e ancião de uma igreja na Suíça.

sumário Revista Chamada Abril 2020

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